sexta-feira, 23 de outubro de 2015



Tênis X Frescobol - Rubem Alves

    Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.

     Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele:
Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: "Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?". Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar. Xerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O império dos sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa, conversa sem fim,
que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou da palavra – é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: "Eu te amo, eu te amo...". Barthes advertia: "Passada a primeira confissão, 'eu te amo' não quer dizer mais nada". É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: "Erótica é a alma".

     O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada – palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.

    O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra – pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...

     A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá. Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Camus anotava no seu diário pequenos fragmentos para os livros que pretendia escrever. Um deles, que se encontra nos Primeiros cadernos, é sobre este jogo de tênis:

     Cena: o marido, a mulher, a galeria. O primeiro tem valor e gosta de brilhar. A segunda guarda silêncio, mas, com pequenas frases secas, destrói todos os propósitos do caro esposo. Desta forma marca constantemente a sua superioridade. O outro domina-se, mas sofre uma humilhação e é assim que nasce o ódio. Exemplo: com um sorriso: "Não se faça mais estúpido do que é, meu amigo". A galeria torce e sorri pouco à vontade. Ele cora, aproxima-se dela, beija-lhe a mão suspirando: "Tens razão, minha querida". A situação está salva e o ódio vai aumentando.

     Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem – cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim

quarta-feira, 14 de outubro de 2015


Emicida - Passarinhos



Despencados de voos cansativos
Complicados e pensativos
Machucados após tantos crivos
Blindados com nossos motivos
Amuados, reflexivos
E dá-lhe anti-depressivos
Acanhados entre discos e livros
Inofensivos

Será que o sol sai pra um voo melhor
Eu vou esperar, talvez na primavera
O céu clareia e vem calor vê só
O que sobrou de nós e o que já era
Em colapso o planeta gira, tanta mentira
Aumenta a ira de quem sofre mudo
A página vira, o sã delira, então a gente pira
E no meio disso tudo

Passarinhos
Soltos a voar dispostos
A achar um ninho
Nem que seja no peito um do outro
Passarinhos
Soltos a voar dispostos
A achar um ninho
Nem que seja no peito um do outro

Laiá, laiá, laiá, laiá
Laiá, laiá, laiá, laiá
Laiá, laiá, laiá, laiá
Laiá, laiá, laiá, laiá

A Babilônia é cinza e neon, eu sei
Meu melhor amigo tem sido o som, ok
Tanto carma lembra Armagedon, orei
Busco vida nova tipo ultrassom, achei
Cidades são aldeias mortas, desafio nonsense
Competição em vão, que ninguém vence
Pense num formigueiro, vai mal
Quando pessoas viram coisas, cabeças viram degraus

No pé que as coisas vão, jão
Doidera, daqui a pouco, resta madeira nem pros caixão
Era neblina, hoje é poluição
Asfalto quente queima os pés no chão
Carros em profusão, confusão
Água em escassez, bem na nossa vez
Assim não resta nem as barata
Injustos fazem leis e o que resta pro ceis?
Escolher qual veneno te mata
Pois somos tipo

domingo, 11 de outubro de 2015


Lá no fundo, você já sabia que ele era um babaca - Sílvia Marques



Embora escreva o atual texto sob o ponto de vista feminino, esclareço logo de cara que este artigo também se refere a mulheres babacas. Sim, elas existem e por alguma razão, muitas vezes, são as preferidas dos homens da mesma forma que os cafajestes são o tipo preferencial das mulheres. Mas este gosto por gente que não vale a pena ficará para outra publicação...vamos aos babacas?
Você investiu na relação. Dedicou seu tempo, seu carinho, engavetou projetos pessoais para abrir espaço para os projetos novos, para os projetos a dois. Você se tornou a melhor amiga dele e recebeu em troca pessimismo e críticas ridículas no estilo “não sei como uma escritora digita com um dedo só!”. Convenhamos! Comentário completamente desnecessário.
Você sempre foi mão aberta com ele e mesmo ganhando pouco nunca foi mesquinha na hora de dar presentes e sempre fez questão de dividir as contas. Mas ele implicou com a taça de vinho branco que você quis tomar no meio da tarde, durante uma viagem que deveria ser romântica.
Você o elogiou calorosamente , motivando-o em seus projetos, por mais bobos que eles te parecessem. Ele se importou mais em elogiar suas pseudo amigas. Vai além. Te critica para terceiros enquanto você elogia o seu potencial.
Você é uma defensora do livre pensamento, da filosofia e das minorias discriminadas. Ele é um racista assumido. Você não tem medo de correr riscos. Ele tem medo de tudo. Você sublima os defeitos dele , mas ele não sublima os seus. Você perdoa e justifica o seu medo, a sua falta de cortesia, mas ele não sublima o fato de você segurar uma taça de vinho branco da forma errada. Comer assistindo TV nem pensar! É o máximo da grosseria. Educado para ele é elogiar a aparência de outras mulheres enquanto diz que você está gorda. Claro que a crítica é feita na forma de brincadeira para você não ter o direito de reclamar.
E quando você reclama disso tudo e propõe um olhar mais generoso para a relação, ele concorda contigo num primeiro momento e no segundo afirma que vocês não darão certo juntos. Que ele sempre te amou, te admirou e te respeitou, mas você não consegue perceber isso.
Sim, provavelmente este casal não daria certo mesmo. E depois de muito sofrimento, lágrimas e antidepressivos , esta mulher que cometeu o pecado mortal de ter 2 quilos acima do peso e segurar a taça de vinho de forma impolida, percebe que ela não sente raiva do ex. Ela sente raiva dela mesma porque lá no fundo, ela já sabia que ele era um babaca e por alguma razão permitiu ser subjugada.


   Não importa se você gosta dela ou não, se acha as músicas dela chatas ou legais Anitta arrasou nesse vídeo e você deve reconhecer isso.

    Ela pegou algumas publicações no twitter e comentou de forma engraçada e irônica como as pessoas usam a ferramenta não para crescimento do outro, mas apenas para falar mal.

   Não consegui o link no youtube, se alguém tiver pode passar: