terça-feira, 26 de janeiro de 2016


Que horas ela volta? 
      A jornalista e blogueira Nina Lemos foi assistir ao filme Que horas ela volta ao lado de amigos europeus. Morando na Alemanha, viu que a plateia reagia de maneira distinta aos pedidos feitos à empregada, vivida por Regina Casé, que mais parecia uma escrava. 
     Estrangeiros achavam que havia um exagero na criação da personagem, já os brasileiros, envergonhados, riam de nervoso. Ninguém lá acredita que a patroa peça um copo d'água à empregada. Leia o texto de Nila Lemos:
Val, me traz um copo de água, por favor?
Val, você pode colocar a mesa, por favor?
Val, você pode tirar a mesa, por favor?
Val, você pode trazer um sorvete para a gente?
Esse tipo de pedido é repetido sem parar em "Que horas ela volta", o filme gênio de Anna Muylaert estrelado com maestria por Regina Casé.
Val, por favor! Val é a empregada da casa, uma pessoa "praticamente da família". Val é uma escrava.
     A família de classe média alta brasileira, sentada na mesa, faz os pedidos, e Val vem e volta. Algumas vezes eles estão sentados na mesa da cozinha, ao lado da Val, mas pedem para ela: "você pode pegar água?" Ela abre a geladeira. Os membros da família, pai artista, mãe fashionista e filho adolescente gente boa, parecem incapazes. Eles não se movem. Eles não levantam a porra da bunda da cadeira. No meio do filme a vontade é entrar na tela e bater neles.
     Estou em um cinema em Kreuzberg, Berlim, e eu sei que é assim na vida real no meu país. A platéia, formada por brasileiros e alemães, dá risos nervosos. Desconfio que os risos nervosos sejam mais de brasileiros como eu, que conhecem bem essa situação e sabem que a escravidão existe no Brasil de uma maneira sinistra. E de uma forma que a gente ainda não foi capaz de acabar.
     Vez ou outra eu falo nervosa para o alemão: "é assim mesmo".
     Na saída, encontro uma amiga brasileira, também acompanhada de namorado europeu e ela me diz: "deu um pouco de vergonha". Concordamos que a vergonha é total.
     No café, eu explico para ele. "É assim, não, não na minha família, não com os meus amigos, mas sim, eu conheço gente assim." "Eu sei, se você está dizendo eu acredito. Mas quem na Europa vai acreditar que essa situação é real? Acho que vão pensar que a diretora é genial, mas que criou uma historia surrealista muito boa, não que isso seja real. Porque isso é muito bizarro. Isso é inconcebível."
     Cara de vergonha. E repito, pela milésima vez em dois anos: "é assim mesmo! É absurdo! Mas é assim mesmo!"
     Lembro de um ex de esquerda que brincava no inicio dos anos 2000: " é bom morar no Brasil porque aqui temos escravos". E gargalhava. Isso antes do politicamente correto chegar e, graças a deus, acabar com esse tipo de humor podre.
     Na minha vida passada recente, eu tinha empregada duas vezes por semana em São Paulo só para catar a minha bagunça. Não sou de família rica. Sou de família de classe média média com momentos de dureza, mas na casa da minha avó sempre teve empregada. Quando eu era bebê meus pais tiveram empregada que dormiu em casa. Eu tive babás por alguns momentos.
O alemão fala: lembro que a minha mãe dizia que o sonho dela, se ganhasse na loteria, era ter uma empregada domestica."
    Conto para uma alemã mãe de três filhos que muitas crianças brasileiras não ajudam em casa, não fazem nada, pedem tudo para a babá. Ela diz: "não acredito, mas elas são muito ricas, não?". "Não, são classe media como você". Ela faz cara de choque e diz: "fulana, vem aqui ouvir a história que a Nina está contando, você não vai acreditar."
     Uma criança alemã não pede um copo de água, ela abre a geladeira e pega. Elas não pedem um sanduíche, elas fazem. Tenho dois enteados alemães, sei do que estou falando.
    Há um ano e meio não, não tenho faxineira. Sim, a minha casa vive uma zona. Sim, eu cozinho. Sim, eu lavo louça, sim, eu lavo as minhas roupas e as estendo em um varal. Tentem. É muito fácil. Eu juro.
    Esse não é um texto vira lata falando que, oh, veja bem, a Europa é tão superior. É apenas para dizer que talvez de longe a gente enxergue melhor certas coisas.
    E eu sei mais que nunca que o jeito que patrões como os da Val vivem é inaceitável.
    E eu sei mais que nunca que a escravidão existe sim no Brasil, onde descolados levam babás vestidas de branco para brincar com os filhos na praia do Arpoador enquanto eles fumam um e falam de arte.
    Obrigado Anna Muylaert, por abrir a porta do armário e mostrar essa realidade para o mundo.

Via: Conexão Jornalismo
Link: http://goo.gl/tYJ5pj


terça-feira, 19 de janeiro de 2016


A Melhor Versão de Nós Mesmo - Martha Medeiros

     Alguns relacionamentos são produtivos e felizes. Outros são limitantes e inférteis. Infelizmente, há de ambos os tipos, e de outros que nem cabe aqui exemplificar. O cardápio é farto. Mas o que será que identifica um amor como saudável e outro como doentio? Em tese, todos os amores deveriam ser benéficos, simplesmente por serem amores.

     Mas não são. E uma pista para descobrir em qual situação a gente se encontra é se perguntar que espécie de mulher e que espécie de homem a sua relação desperta em você. Qual a versão que prevalece?

     A pessoa mais bacana do mundo também tem um lado perverso. E a pessoa mais arrogante pode ter dentro de si um meigo. Escolhemos uma versão oficial para consumo externo, mas os nossos eus secretos também existem e só estão esperando uma provocação para se apresentarem publicamente. A questão é perceber se a pessoa com quem você convive ajuda você a revelar o seu melhor ou o seu pior.

     Você convive com uma mulher tão ciumenta que manipula para encarcerar você em casa, longe do contato com amigos e familiares, transformando você num bicho do mato? Ou você descobriu através da sua esposa que as pessoas não mordem e que uma boa rede de relacionamentos alavanca a vida?

     Você convive com um homem que a tira do sério e faz você virar a barraqueira que nunca foi? Ou convive com alguém de bem com a vida, fazendo com que você relaxe e seja a melhor parceira para programas divertidos?

     Seu marido é tão indecente nas transações financeiras que força você a ser conivente com falcatruas?


     Sua esposa é tão grosseira com os outros que você acaba pagando micos pelo simples fato de estar ao lado dela?

     Seu noivo é tão calado e misterioso que transforma você numa desconfiada neurótica, do tipo que não para de xeretar o celular e fazer perguntas indiscretas?

     Sua namorada é tão exibida e espalhafatosa que faz você agir como um censor, logo você que sempre foi partidário do “cada um vive como quer”?

     Que reações imprevistas seu amor desperta em você? Se somos pessoas do bem, queremos estar com alguém que não desvirtue isso, ao contrário, que possibilite que nossas qualidades fiquem ainda mais evidentes. Um amor deve servir de trampolim para nossos saltos ornamentais, não para provocar escorregões e vexames.

     O amor danoso é aquele que, mesmo sendo verdadeiro, transforma você em alguém desprezível a seus próprios olhos. Se a relação em que você se encontra não faz você gostar de si mesmo, desperta sua mesquinhez, rabugice, desconfiança e demais perfis vexatórios, alguma coisa está errada. O amor que nos serve e nos faz evoluir é aquele que traz à tona a nossa melhor versão.

Idosas fazem enxoval e doam para mães carentes

     Estas três senhoras de Brasília se unem três tardes livres por semana para fazer enxovais que são doados para ajudar grávidas carentes.
     “Tem mãe que sai do hospital com o bebê enrolado num lençol”, conta dona Sônia, de 70 anos, em entrevista ao Só Notícia Boa.
     E se você acha que elas começaram a fazer esse trabalho lindo agora, engana-se, são 40 anos de gentilezas, 40 anos de roupinhas, pijamas, fraldas, casaquinhos, camisetinhas pagãs e sapatinhos.
     Além da dona Sônia, participam as amigas Francisca, de 66 anos, e Marieta, de 79. A produção das peças e a doação funcionam no prédio da Federação Espírita do Distrito Federal, que fica na 408 sul.
     Tudo que as amigas usam vem de doação.
     O enxoval é composto por 1 cobertor, 2 roupinhas, 2 pijamas, 4 fraldas e 2 pares de sapatinhos.
     Dona Francisca conta que “o que mais emociona é ver a reação das mães quando recebem o kit”.

*Fonte: Razão para Acreditar!