Agora muito melhor e com novo estilo. Criei um site pra escrever contos e crônicas de todos os assuntos possíveis de uma forma leve interessante.
{ Devaneio }
segunda-feira, 30 de outubro de 2017
quarta-feira, 7 de dezembro de 2016
terça-feira, 26 de janeiro de 2016
Que horas ela volta?
A jornalista e blogueira Nina
Lemos foi assistir ao filme Que horas ela volta ao lado de amigos europeus.
Morando na Alemanha, viu que a plateia reagia de maneira distinta aos pedidos
feitos à empregada, vivida por Regina Casé, que mais parecia uma escrava.
Estrangeiros achavam que havia um exagero na criação da personagem, já os
brasileiros, envergonhados, riam de nervoso. Ninguém lá acredita que a patroa
peça um copo d'água à empregada. Leia o texto de Nila Lemos:
Val, me traz um copo de água, por
favor?
Val, você pode colocar a mesa, por
favor?
Val, você pode trazer um sorvete
para a gente?
Esse tipo de pedido é repetido sem
parar em "Que horas ela volta", o filme gênio de Anna Muylaert
estrelado com maestria por Regina Casé.
Val, por favor! Val é a empregada
da casa, uma pessoa "praticamente da família". Val é uma escrava.
A família de classe média alta
brasileira, sentada na mesa, faz os pedidos, e Val vem e volta. Algumas vezes
eles estão sentados na mesa da cozinha, ao lado da Val, mas pedem para ela:
"você pode pegar água?" Ela abre a geladeira. Os membros da família,
pai artista, mãe fashionista e filho adolescente gente boa, parecem incapazes.
Eles não se movem. Eles não levantam a porra da bunda da cadeira. No meio do
filme a vontade é entrar na tela e bater neles.
Estou em um cinema em Kreuzberg,
Berlim, e eu sei que é assim na vida real no meu país. A platéia, formada por
brasileiros e alemães, dá risos nervosos. Desconfio que os risos nervosos sejam
mais de brasileiros como eu, que conhecem bem essa situação e sabem que a
escravidão existe no Brasil de uma maneira sinistra. E de uma forma que a gente
ainda não foi capaz de acabar.
Vez ou outra eu falo nervosa para
o alemão: "é assim mesmo".
Na saída, encontro uma amiga
brasileira, também acompanhada de namorado europeu e ela me diz: "deu um
pouco de vergonha". Concordamos que a vergonha é total.
No café, eu explico para ele.
"É assim, não, não na minha família, não com os meus amigos, mas sim, eu
conheço gente assim." "Eu sei, se você está dizendo eu acredito. Mas
quem na Europa vai acreditar que essa situação é real? Acho que vão pensar que
a diretora é genial, mas que criou uma historia surrealista muito boa, não que
isso seja real. Porque isso é muito bizarro. Isso é inconcebível."
Cara de vergonha. E repito, pela
milésima vez em dois anos: "é assim mesmo! É absurdo! Mas é assim
mesmo!"
Lembro de um ex de esquerda que
brincava no inicio dos anos 2000: " é bom morar no Brasil porque aqui
temos escravos". E gargalhava. Isso antes do politicamente correto chegar
e, graças a deus, acabar com esse tipo de humor podre.
Na minha vida passada recente, eu
tinha empregada duas vezes por semana em São Paulo só para catar a minha
bagunça. Não sou de família rica. Sou de família de classe média média com
momentos de dureza, mas na casa da minha avó sempre teve empregada. Quando eu
era bebê meus pais tiveram empregada que dormiu em casa. Eu tive babás por
alguns momentos.
O alemão fala: lembro que a minha
mãe dizia que o sonho dela, se ganhasse na loteria, era ter uma empregada
domestica."
Conto para uma alemã mãe de três
filhos que muitas crianças brasileiras não ajudam em casa, não fazem nada,
pedem tudo para a babá. Ela diz: "não acredito, mas elas são muito ricas,
não?". "Não, são classe media como você". Ela faz cara de choque
e diz: "fulana, vem aqui ouvir a história que a Nina está contando, você
não vai acreditar."
Uma criança alemã não pede um copo
de água, ela abre a geladeira e pega. Elas não pedem um sanduíche, elas fazem.
Tenho dois enteados alemães, sei do que estou falando.
Há um ano e meio não, não tenho
faxineira. Sim, a minha casa vive uma zona. Sim, eu cozinho. Sim, eu lavo
louça, sim, eu lavo as minhas roupas e as estendo em um varal. Tentem. É muito
fácil. Eu juro.
Esse não é um texto vira lata
falando que, oh, veja bem, a Europa é tão superior. É apenas para dizer que
talvez de longe a gente enxergue melhor certas coisas.
E eu sei mais que nunca que o
jeito que patrões como os da Val vivem é inaceitável.
E eu sei mais que nunca que a
escravidão existe sim no Brasil, onde descolados levam babás vestidas de branco
para brincar com os filhos na praia do Arpoador enquanto eles fumam um e falam
de arte.
Obrigado Anna Muylaert, por abrir
a porta do armário e mostrar essa realidade para o mundo.
Via: Conexão Jornalismo
Link: http://goo.gl/tYJ5pj
Link: http://goo.gl/tYJ5pj
terça-feira, 19 de janeiro de 2016
A Melhor Versão de Nós Mesmo - Martha Medeiros
Alguns relacionamentos são
produtivos e felizes. Outros são limitantes e inférteis. Infelizmente, há de
ambos os tipos, e de outros que nem cabe aqui exemplificar. O cardápio é farto.
Mas o que será que identifica um amor como saudável e outro como doentio? Em
tese, todos os amores deveriam ser benéficos, simplesmente por serem amores.
Mas não são. E uma pista para descobrir em qual situação a gente se encontra é se perguntar que espécie de mulher e que espécie de homem a sua relação desperta em você. Qual a versão que prevalece?
A pessoa mais bacana do mundo também tem um lado perverso. E a pessoa mais arrogante pode ter dentro de si um meigo. Escolhemos uma versão oficial para consumo externo, mas os nossos eus secretos também existem e só estão esperando uma provocação para se apresentarem publicamente. A questão é perceber se a pessoa com quem você convive ajuda você a revelar o seu melhor ou o seu pior.
Você convive com uma mulher tão ciumenta que manipula para
encarcerar você em casa, longe do contato com amigos e familiares,
transformando você num bicho do mato? Ou você descobriu através da sua esposa
que as pessoas não mordem e que uma boa rede de relacionamentos alavanca a vida?
Você convive com um homem que a tira do sério e faz você virar a barraqueira que nunca foi? Ou convive com alguém de bem com a vida, fazendo com que você relaxe e seja a melhor parceira para programas divertidos?
Seu marido é tão indecente nas transações financeiras que força você a ser conivente com falcatruas?
Você convive com um homem que a tira do sério e faz você virar a barraqueira que nunca foi? Ou convive com alguém de bem com a vida, fazendo com que você relaxe e seja a melhor parceira para programas divertidos?
Seu marido é tão indecente nas transações financeiras que força você a ser conivente com falcatruas?
Sua esposa é tão grosseira com os outros que você acaba pagando micos pelo simples fato de estar ao lado dela?
Seu noivo é tão calado e misterioso que transforma você numa desconfiada neurótica, do tipo que não para de xeretar o celular e fazer perguntas indiscretas?
Sua namorada é tão exibida e espalhafatosa que faz você agir como um censor, logo você que sempre foi partidário do “cada um vive como quer”?
Que reações imprevistas seu amor desperta em você? Se somos pessoas do bem, queremos estar com alguém que não desvirtue isso, ao contrário, que possibilite que nossas qualidades fiquem ainda mais evidentes. Um amor deve servir de trampolim para nossos saltos ornamentais, não para provocar escorregões e vexames.
O amor danoso é aquele que, mesmo sendo verdadeiro, transforma você em alguém desprezível a seus próprios olhos. Se a relação em que você se encontra não faz você gostar de si mesmo, desperta sua mesquinhez, rabugice, desconfiança e demais perfis vexatórios, alguma coisa está errada. O amor que nos serve e nos faz evoluir é aquele que traz à tona a nossa melhor versão.
Idosas fazem enxoval e doam para mães carentes
Estas três senhoras de Brasília se unem três tardes livres por semana para fazer enxovais que são doados para ajudar grávidas carentes.
“Tem mãe que sai do hospital com o bebê enrolado num lençol”, conta dona Sônia, de 70 anos, em entrevista ao Só Notícia Boa.
E se você acha que elas começaram a fazer esse trabalho lindo agora, engana-se, são 40 anos de gentilezas, 40 anos de roupinhas, pijamas, fraldas, casaquinhos, camisetinhas pagãs e sapatinhos.
Além da dona Sônia, participam as amigas Francisca, de 66 anos, e Marieta, de 79. A produção das peças e a doação funcionam no prédio da Federação Espírita do Distrito Federal, que fica na 408 sul.
Tudo que as amigas usam vem de doação.
Dona Francisca conta que “o que mais emociona é ver a reação das mães quando recebem o kit”.
*Fonte: Razão para Acreditar!
terça-feira, 3 de novembro de 2015
Crítica sobre o Livro After - Anna Todd
[Resenha] Conta a história de uma menina (Tessa) completamente inexperiente em todos os sentidos da vida e que seguia rigorosamente todo o roteiro que sua mãe lhe impunha desde que seu pai as abandonou. Assim que entra na faculdade, conhece sua colega de quarto a Step e seu grupo de amigos que são completamente o oposto. Logo de inicio se apaixona pelo misterioso, grosseiro e bonito Hardin. Eles não se dão bem desde o primeiro contato, mas aos poucos descobrem que essas diferenças só o atraem mais.
Antes de comprar vi vários comentários e vídeos de pessoas que adoraram e afirmavam ser um dos melhores livros que leram. Tinha um pressentimento de que iria me arrepender e mesmo assim o comprei. E minhas suspeitas só se confirmaram. Fiquei chocada com a quantidade de elogio ao livro e personagens porque a história é completamente clichê como "50 Tons de Cinza" ou "Crepúsculo".
O que mais me irrita é sobre as pessoas romantizarem o relacionamento conturbado que eles tinham, que mais parecia uma roda gigantes com seus altos e baixos. Das pessoas não criticarem essa absurda dependência que os dois tinham um pelo outro como se fosse saudável. Não enxergarem o quanto a autora tenta explorar essa ideia de que a mulher com muita persistência e amor consegue melhorar um homem.
Torcem para que os dois fiquem juntos mesmo sendo a melhor opção para Tessa tira-lo completamente da sua vida. Porque mesmo com todas as coisas boas e mudanças de comportamento que ele provoca não valem a pena pela a inconstância, grosseira e o tanto que ela chora no livro inteiro. Não por ser sentimental ou fraca mas porque tem alguém abusando, manipulando, brincando e sendo inconstante com suas emoções e a melhor saída é chorar.
O que muita gente não comenta é que apesar de parecer o mocinho da história que só tem problemas por causa da infância conturbada e dificuldade de envolvimento, Hardin é completamente carente, controlador, calculista, ciumento, mimado e manipulador. Defeitos suavizados sempre pela autora para parecerem mais fofos e bonitos do que realmente são.
Anna Todd poderia ter facilmente economizado 150 páginas excluindo metade do: "Eu te amo", "Covinhas dos rosto dele", "Você me machuca muito Hardin" ou "Estou indo embora". Situações repetitivas para enfatizar o drama entre o casal ou a personalidade de cada um, mesmo já sendo bem claro.
Acho que a autora sabe muito bem usar os artifícios de suspense, deixando um rastro de interrogações e pistas para resolve-lo por todo o livro, mas mesmo assim a história é chata e clichê. Não tenho a menor intenção de ler a continuação, mesmo tendo um monte de dúvidas que só serão explicadas no outro livro (talvez né).
sexta-feira, 23 de outubro de 2015
Tênis X Frescobol - Rubem Alves
Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.
Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele:
Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: "Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?". Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar. Xerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O império dos sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa, conversa sem fim,
que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou da palavra – é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: "Eu te amo, eu te amo...". Barthes advertia: "Passada a primeira confissão, 'eu te amo' não quer dizer mais nada". É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: "Erótica é a alma".
O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada – palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.
O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra – pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...
A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá. Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Camus anotava no seu diário pequenos fragmentos para os livros que pretendia escrever. Um deles, que se encontra nos Primeiros cadernos, é sobre este jogo de tênis:
Cena: o marido, a mulher, a galeria. O primeiro tem valor e gosta de brilhar. A segunda guarda silêncio, mas, com pequenas frases secas, destrói todos os propósitos do caro esposo. Desta forma marca constantemente a sua superioridade. O outro domina-se, mas sofre uma humilhação e é assim que nasce o ódio. Exemplo: com um sorriso: "Não se faça mais estúpido do que é, meu amigo". A galeria torce e sorri pouco à vontade. Ele cora, aproxima-se dela, beija-lhe a mão suspirando: "Tens razão, minha querida". A situação está salva e o ódio vai aumentando.
Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem – cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim
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