Sobre sair para beber sozinha - Amanda Mormito
Há tempos eu saio para beber e viajar sozinha. Tudo começou quando eu cansei de esperar amigas que nunca quiseram sair do estado e namorados que nunca houveram, para daí então poder fazer algo que eu realmente quisesse. Tirei o bandaid e aceitei que adorava ficar um tempo sozinha quando tinha 19 anos e desde então venho fazendo ambos independente de onde more ou de onde visite. Porque conhecer bares e lugares
diferentes são duas coisas deliciosas, juntas elas ficam perfeitas. Não confunda liberdade pessoal com introversão, por gentileza, durante esse post.
Acontece que não é lá muito comum fazer isso. Esse post era para sair daqui um tempo (quando eu já tivesse abarcado mais álcoois e lugares legais para visitar), mas resolvi publicar antes por motivos de: “não está sendo fácil sair para beber sozinha”.
Veja bem, não sou uma pessoa que chama atenção: não tenho mais que 1,60m , sou discreta (já cheguei a ir a um mesmo bar 2x na mesma semana durante 2 meses, me sentar no mesmo lugar e ser atendida pelas mesmas pessoas que jamais se lembraram da minha existência, até que um deles notou que eu sempre pedia a mesma coisa – Old Fashioned sempre às quintas) e séria, mas nem isso ajuda na hora de sair para beber sem companhia.
E vamos ao real motivo pelo qual estou abrindo aqui o corazón: qual o problema de uma mulher se sentar sozinha em um bar e pedir algo para tomar?
Dentre as poucas vezes que me atrevi a fazer isso por São Paulo ou fui assediada, ou indaga se não tinha amigos, ou se estava de coração partido e até mesmo se estava caçando (nessas palavras). E surpreendentemente não foram só homens que fizeram isso, muitas mulheres me olharam feio entre as vezes que cheguei sozinha e sai sozinha de um bar.
Pude até ter sido ingênua das primeiras vezes. Morei em uma cidade que isso não era comum também, mas pelo menos as pessoas me respeitavam. Afinal, a vida tá aí pra cada um ser feliz fazendo o que julga coerente e que traz, ainda que seja, um pequeno momento de felicidade. E independente de crenças ou filosofias, você há de concordar comigo que o tempo cada vez passa mais rápido (alguém aí viu Junho passar?).
Eu também não sou dessas que tem medo de cara feia, minha família é italiana (cara feia pra gente é fome), mas uma experiência que poderia ter sido minimamente tranquila e sem maiores desafetos acaba se tornando uma chateação sem fim (qual a necessidade?).
Uma das últimas experiências que tive aqui foi em um restaurante-bar de Pinheiros. O bartender não sabia direito como lidar com o fato de ter uma menina sentada a sua frente sem uma amiga ou alguém a tiracolo, fui sincera e abri o jogo com ele: não se preocupa comigo porque eu adoro ter um tempo sozinha. Até aí eu entendo (sério) e não ligo (muito) de justificar o propósito de estar fazendo aquilo se vai deixar o menino mais tranquilo para me atender e/ou bater um papo descontraído. Mas vamos combinar que eu não precisaria fazer isso.
Mas daí, amigos, apareceu a hostess do lugar. A cidadã me perguntou, acreditem, 3 vezes se eu estava sozinha e se iria ficar sozinha. Não satisfeita, foi para trás do bar, falou com o bartender olhando para mim e ficou me encarando durante o tempo que permaneci no lugar. E ainda ficou desconjurada quando comecei a balançar o pé ao som dos Beatles que tocava como música ambiente por lá. Pelo jeito estava eu infringindo regras.
Quando ela sumiu do mapa e eu jurei que o desconforto houvesse passado, chegou um casal no estabelecimento. Não haviam cadeiras disponíveis para ambos se sentarem a não ser as duas banquetas que estavam ao meu lado. Os dois somente se sentaram quando me afastei um pouco das duas banquetas e inclinei a minha mais em direção a parede. A mulher se sentou ao meu lado e o namorado dela ao lado. Não sei a real intenção e não me julguem se estiver sendo “inocente, não sabe de nada”, mas a menina se sentou de costas para mim. Fiquei constrangida e o bartender, já meu amigo, se sentiu incomodado. Desconcertado, ele até me ofereceu um drink da casa – sem custo e um “desculpa moça, mas não é todo dia que uma garota sai sozinha para beber drinks no meio da tarde”.
A real é que essa foi uma das várias vezes que saí para beber sozinha. Poderia ir a uma livraria, no Ibiraquera ou até mesmo ao cinema, mas o fato de ser um bar tá errado. Eu não ligo para cara fechada e tem bares que são mais ou menos propícios para se fazer isso, mas ser mulher e ir a um bar sozinha ainda é um tabu (tabu ainda mesmo entre nós, mulheres).
Acho um saco ter que ficar me justificando cada vez que alguém me pergunta: tá sozinha por que? Gente, passa pela cabeça de alguém que eu quero ficar no meu canto? Sou dessas que tem preguiça de falar às vezes e adoro observar o movimento ao meu redor. Acho incrível ver pessoas sorrindo ou até mesmo tendo discussões acaloradas e me lembrar de coisas gostosas, é meu jeito de sentir a vida transcorrendo.
Muita gente tem mania de confundir a solidão com tristeza. Foi para o cinema sozinho? Porque ninguém quis ir contigo. Foi jantar sozinho? Coitado, que dó. Foi para o bar beber sozinho? Tá de coração partido. Ou a coisa é inversamente oposta: tá caçando, tá querendo, tá fácil.
Eu fui criada sabendo que ninguém iria realizar meus desejos por mim e que ninguém paga minhas contas no final do dia para julgar se meu dinheiro vai ser melhor gasto em uma bolsa ou em um drink numa quinta-feira de noite, em um bar sozinha.
Sei também que muita gente não gosta dessa exposição, não é lá tão fácil sair sozinha e desfrutar sua própria companhia, mas amigos, por favor, deixem em paz quem consegue/pode fazê-lo.